Reggio Emilia: uma cidade educadora da primeira infância

 

A História

Os moradores da cidade de Reggio Emilia, no norte da Itália, hoje com 170 mil habitantes, encontraram, após a II Guerra Mundial, uma cidade de escombros e junto a ela, a necessidade de reconstruir suas vidas. Um parcela dos cidadãos decidiu então que a melhor forma de reconstruir o tecido social, cultural e político da comunidade seria o caminho de construir uma escola com as próprias mãos.

Da necessidade do cuidado dos pequenos, vislumbrou-se o cuidado da cidade inteira. Os detritos dos tempos idos virou matéria-prima para a construção do novo. Com a venda de metais velhos, restos de bombas e construções abandonadas, começou a ser construída a velha creche. Um jovem pedagogo, chamado Loris Malaguzzi, inspirado pelas ideias novas de Jean Piaget, Lev Vygotsky, John Dewey e Maria Montessori, "passava de bicicleta pelo local e se encantou com o que viu".

Começou assim o processo de construção da rede de escolas infantis e creches de Reggio Emilia.

Hoje já são mais de 13 creches e 21 pré-escolas na cidade, contemplando 40% da rede pública do município, com o apoio da Fundação Reggio Children e do Centro Internacional Loris Malaguzzi.

 

Comunidade como centro

A abordagem Reggio Emilia, como ficou conhecida, se baseia na perspectiva do papel primordial da comunidade e dos pais na construção da educação. Atualmente, tal metodologia tem sido importante na integração de famílias de imigrantes ao país, pela ampla participação conferida à família no processo. "[O método se baseia no acolhimento das diferenças de cultura, religião, de pertencimento, da noção de que o ser humano é diferença, diferença que porta um valor em si e um contexto educativo que pode acolher todos”, afirma a coordenadora da Reggio Children, Cláudia Giudici, em reportagem da TV Univesp (que pode ser acessada abaixo).

Além disso, a abordagem também valoriza a representação simbólica – artes, pintura, música – como ferramentas primordiais no aprendizado. A estrutura física da escola também é pensada na busca de um ambiente educativo e lúdico, fazendo com que o espaço seja considerado “um terceiro professor”. A cozinha, por exemplo, fica logo na entrada das unidades e é transparente aos demais cômodos, sugerindo a não-divisão dos potenciais educativos.

Dialogando com tal percepção está também o papel ativo de todos os membros da comunidade escolar no aprendizado. Além dos coordenadores pedagógicos e dos professores, os responsáveis pela comida são vistos como educadores e as crianças são incentivadas a se interessar por aquilo que estão comendo, tendo papel ativo até na preparação dos alimentos. A Reggio Emilia também conta com atelieristas, que propõe atividades diversas, dentro de suas áreas de atuação, para trabalhar com diferentes linguagens.

 

 

A criança é feita de cem.

A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar,

de jogar e de falar.

Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar.

Cem alegrias para cantar e compreender.

Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar.

Cem mundos para sonhar.

A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem),

mas roubaram-lhe noventa e nove.

A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo.

Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar,

De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal.

Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e de cem,

roubaram-lhe noventa e nove.

Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a imaginação,

O céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas.

Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário,

as cem existem.

 

(Loris Malaguzzi, “As Cem Linguagens das Crianças”)

 

Cem linguagens

Os caminhos da representação simbólica não estão, todavia, contidos apenas nos campos já delineados pela arte e pela ciência. Para exemplificar a metodologia, Malaguzzi escreveu o poema “As Cem Linguagens das Crianças”, no qual propõe as infinitas possibilidades de expressão do ser humano em sua primeira idade. A partir desta concepção, destacam-se nas escolas de Reggio Emilia o papel de protagonista da criança em sua educação, proporcionando controle sobre os direcionamentos da aprendizagem.

Para isso, prioriza-se a “experiência real” antes do estabelecido. As crianças devem poder tocar, sentir, fazer, se relacionar e explorar o que está a sua volta, para conhecerem a si mesmas e ao mundo no qual estão inseridas. “A mente da criança e do ser humano é multidisciplinar. Portanto, se observo a criança quando ela conhece, tenho de volta esse modo de conhecer”, analisa Claudia Giudici.

Dentro da rotina escolar, também é valorizado o trabalho em pequenos grupos, que acontece muitas vezes independentemente de séries. Ao final do dia, os resultados são divididos pelos grupos numa assembleia, onde a participação de todos é encorajada. “Acho que formamos indivíduos críticos, que veem o mundo de várias formas, construindo suas ideias com a comunidade e com suas próprias subjetividades”, afirma Madalena Tedeschi, coordenadora de uma das unidades.

 

 

 

 

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